Trocando em miúdos

Vamos, trocando em miúdos. Eu fico com os discos do Chico e você com os do Caetano. Devolva os livros que ainda não li. As dedicatórias quero tê-las aqui, para mim, em mim, ao alcance das mãos. As suas, as tenha em pensamento, somente, para são alardear os olhos e o nariz. Ao coração, mando um beijo como quem diz "vou e volto já para ver se você estará no lugar onde deixei". Vamos, virando a página com cuidado para sentir bem a textura, para ver se encontramos aquela cédula perdida ou o ticket do hotel. Deixa estar, ouve a música soando devagar. As notas preguiçosas saindo do som no quarto escuro no fim de tarde quando o calor infernal é vencido por um adorável frescor. Ao peito, mando um abraço como quem diz "esta casa sempre será minha". Vamos, trocando em miúdos para dizer, na verdade, que os miúdos não são tão miúdos assim.

Beijos, da poeira da estante.

Read Comments

Tudo atrasado, até o casual


Dos poemas atrasados, dos convites atrasados, das declarações atrasadas, das percepções atrasadas, dos amores atrasados, dos conselhos atrasados, dos abraços atrasados, dos cumprimentos atrasados, das leituras atrasadas, dos estudos atrasados, dos planos atrasados, da paz atrasada, das notícias atrasadas, das ligações atrasadas, da felicidade atrasada, das verdades atrasadas, das direções atrasadas, dos trabalhos atrasados, das tarefas atrasadas, das promessas atrasadas, dos jogos atrasados, dei a volta, disse sim e, agora, o que é que sobra além das situações casuais?

Read Comments

Assessoria de Imprensa em São Luís: Como destruir a imagem de um órgão e enlouquecer a vida do repórter



Vida de repórter não é fácil e não estou falando do sol e lama que vez ou outra encaramos para voltar para a redação com uma matéria bem apurada. Lidar com as assessorias de imprensa tem sido cada vez mais difícil. Na era da tecnologia, da velocidade de troca de informação, da comunicação por mil e um meios, conseguir uma resposta de uma assessoria tem sido uma verdadeira saga.
Assessoria de órgão público é, especialmente, a oitava maravilha do mundo. Algumas quando não mandam as clássicas respostas “enviaremos uma equipe ao local” ou “a demanda já está incluída no cronograma de ações”, nem sequer encaminham um retorno. Quantas vezes você aí repórter não esperou junto com o Papai Noel a resposta daquela assessoria?
E vocês aí? Pensam que o problema é só esse? Meus caros, sentem aí que a história vai começar. Além das respostas prontas ou das fantasmas, muitos assessores além de formados em faculdades de Jornalismo, também são pós-graduados em Grosseria Social. Esbanjam indelicadezas, rispidez e, para ser bem popularesca, “cavalices” ou, se preferirem, “coices” que deixam teu olho roxo durante semanas.
Se você tem que estar na redação às 8h e depois às 14h, com  alguns assessores é diferente. Eles são as estrelas, mais importantes que Obama, mais famosos que Madonna. Muitos chegam às 10h,  saem às 11h30, tem almoços homéricos e voltam – se voltarem – depois das 15h30. Se você estiver com pressa, já era. Querido, se conforme com as suas rugas.
Se a sua intenção é conseguir uma entrevista com o assessorado, é melhor começar a rezar. É mais fácil ressuscitar Chico Xavier e fazê-lo psicografar uma mensagem do prefeito da cidade que um assessor articular o meio de campo.
Se você está precisando de dados, números, levantamentos. Rá! Nem Deus é capaz de convencer alguns assessores a te auxiliar. Os queridos não entenderam que o lance não é reter a informação, é saber articular o assessorado para lidar com a imprensa e usar os dados da melhor forma, debatê-los, justificá-los.
Quando o negócio é divulgação de show, se prepare, meu amigo, pois os assessores das bandas de cá parecem ter medo das “estrelas”. As protegem como se fosse uma bonequinha de cristal, não te deixam chegar perto e nem respirar o mesmo ar que elas. Entrevista? Você é louco? Jamais!
E as desculpas? Os assessorados estão em eternas reuniões. Se eles se reunissem tanto para resolver os problemas de São Luís, por exemplo, acho que a cidade seria mais a desenvolvida do país. Preciso falar das viagens? São tantas que daria para dar a volta ao mundo umas 50 vezes.
Se você foi guerreiro e encheu tanto o saco para finalmente conseguir uma entrevista, prepare-se para mais uma etapa de caminho rumo ao inferno. Alguns assessores querem te privar de fazer determinadas perguntas sobre determinados assuntos porque “disso ele não vai falar”. Quando não é isso, pedem que você encaminhe as perguntas antes para saber se o digníssimo terá humor para responder.
No final de tudo, se você com ajuda divina conseguiu tudo o que queria para fazer sua matéria, no dia seguinte ligam para a redação, falam com você, seu chefe e também com o papa para dizer que o que você escreveu não foi dito ou repassado ou dizem que o repórter não procurou “saber o outro lado”.
Acham que tudo isso é fantasia? Darei um exemplo de algo que me aconteceu hoje. Não tive o (des)prazer de encarar todas essas situações, mas serve de parâmetro para mostrar como a coisa não tem andado por aqui.

Segue abaixo a minha rotina de hoje:

9h Recebi uma pauta. Bronca com uma empresa contratada pela Prefeitura

9h05 Saio da redação para checar as informações. Percorro quatro lugares para apurar a matéria com os envolvidos

11h10 Estou de volta à redação

11h15 Ligo para a assessoria central da Prefeitura. Eles me dão o telefone da assessoria da Secretaria de Trânsito e Transportes (SMTT), que é a responsável pelo assunto tratado na reportagem

11h19 Mando um e-mail para a SMTT solicitando informações e posicionamento do órgão

11h25 Ligo para a assessoria para checar se o e-mail chegou. Recebo confirmação

14h05 Ligo para a assessoria para cobrar a resposta. Ninguém atende

14h17 Ligo para a assessoria para cobrar a resposta. Ninguém atende

14h26 Ligo para a assessoria para cobrar a resposta. Ninguém atende

14h34: Tento contato direto com a chefe da assessoria da SMTT. Ela não atende o celular

14h51 Ligo para a assessoria para cobrar a resposta. Ninguém atende

15h10 Consigo contato. A chefe da assessoria não está e não há quem responda, senão ela

17h01 Consigo contato. A chefe da assessoria continua sem estar no ambiente de trabalho e sou informada que as informações que eu solicitei não poderiam ser dadas porque o setor responsável pelo assunto tratado não funciona na sexta-feira a tarde

17h05 Comunico a editora do caderno que a resposta da Prefeitura não poderá ser dada

17h10 Página fechada

18h Vou embora


Viu, meus queridos? A vida não é fácil para estes pobres operários da informação. Devo salientar, porém, que nem todos os profissionais daqui sofrem dessa dificuldade de saber qual o real papel desse bicho chamado Assessoria de Imprensa. Alguns são ótimos, prestativos, educados, criativos e te ajudam no que você precisa e até não precisa. Estes inteligentes movem céus e terra para que tudo saia da melhor forma.
Aos que não detém dessas qualidades, devo lhe dar uma pequena luz: Ow querido, você não está só destruindo a própria imagem como pessoa e profissional. Você está levando para o buraco o nome do seu assessorado, empresa, órgão, entidade. Amigos, não custa nada ler um manual básico para aprender a ser no mínimo tratável. Além disso, ser mal visto pela imprensa não é lá muito recomendável, né?
_______________
Thamirys D'Eça 

Para comentar esta postagem, clique no ícone azul e branco abaixo.-----------V

Read Comments

Funerária vende caixões temáticos e vira atração local


Caixões do Vasco e Corinthians. Foto: Douglas Júnior

Além das ruínas, casarões antigos, praias e manifestações culturais como a Festa do Divino Espírito Santo e a de São Benedito, a Funerária Pinheirense virou atração no município de Alcântara. O motivo é que o proprietário, Gerson Costa, conhecido por Zé do Caixão, resolveu vender caixões temáticos. O assunto escolhido são times de futebol. Nos pacotes oferecidos pela loja estão também “choradores” – pessoas contratadas para chorar durante velórios e enterros – e banda para tocar os hinos das seleções esportivas e músicas em geral.
Antes mesmo de entrar na funerária, a frase “seja sócio” desperta o interesse de moradores e turistas. A maioria acha o convite cômico. “Eu mesmo não quero ser sócio não. Deus me livre. Não quero morrer tão cedo e nem nunca trabalhar com nada relacionado à morte”, disse entre risos Luís Silva, que mora próximo ao local.
Na porta da funerária, um vendedor de caixões muito espirituoso que usa óculos escuros, chapéu de palha, camiseta colorida, bermuda e está sempre sorrindo. Gerson Costa, ou Zé do Caixão, como é chamado no município, além de proprietário, é o responsável por receber os compradores e apresentar os pacotes de venda.

Zé do Caixão aguardando compradores. Foto: Douglas Júnior
Além do Zé do Caixão, que por si só é uma atração à parte, entre os caixões amadeirados, envernizados, dourados e prateados, estão os itens que mais chamam a atenção de quem passa pela Rua Direita, Centro dea cidade, onde está situada a funerária. São os caixões com emblemas de times de futebol.
Durante minha passagem pelo lugar, estavam expostos caixões das seleções Vasco e Corinthians. “Tínhamos um do Flamengo também, mas morreu um torcedor e compraram o caixão para ele, mas já fiz pedido de outro”, explicou Zé do Caixão.
Além do Flamengo, Zé do Caixão disse que pretende encomendar de uma fábrica de caixões em São Paulo - de onde também são trazidos os comuns – também nos temas dos times Fluminense, Sport, Internacional e até dos maranhenses Sampaio Corrêa e Moto Club.
Para o falecido obter o caixão personalizado, porém, terá de pagar mais caro. Cada um, independente do time, custa R$1.800. Apesar do valor, ele afirma que já recebeu pedido de reserva. “Quando a pessoa é muito torcedora, a família quer homenagear, mas para garantir isso, antes mesmo de morrer tem gente que vem aqui fazer a reserva. Tem um fanático pelo Vasco que já reservou o seu”, disse.
O torcedor vascaíno é Fábio Luís Lemos. “Sou Vasco desde pequeninho. Nasci torcendo e vou morrer torcendo e, para isso, só mesmo sendo enterrado com um caixão do time do coração. Acho uma idéia maluca, mas muito legal”, explicou de maneira bem-humorada.
A idéia de vender caixões com emblemas de times de futebol surgiu desde o início do ano, apesar da Funerária Pinheirense existir há 15 anos. “Meu pai era o dono e comecei a trabalhar nela desde cedo. A funerária funcionava em Pinheiro, mas depois que ele morreu me mudei para Alcântara”, relatou Zé do Caixão.
Segundo ele desde que adotou a venda dos caixões com temas futebolísticos, as vendas aumentaram, assim como as visitas na funerária. “Muitos turistas vêm aqui e quando passam e olham, tiram foto, se divertem, apesar de ser algo relacionado à morte. Virou uma atração de Alcântara”, considerou.
Não é só apenas os caixões de times que transformam a Funerária Pinheirense em um local peculiar. Nos pacotes de venda, os compradores podem optar também por “choradores”. “Tem gente que não tem muitos amigos e nem muitos familiares, então, tem gente que contrata ‘choradores’. Aqui temos dois, que são o Berfú e a Fátima. Eles recebem R$70,00 para chorar no velório e enterro do defunto”, revelou Zé do Caixão.
Há quem opte também por banda musical, para “animar” a despedida de quem morreu. Se o falecido estiver sendo enterrado num dos caixões de time, por exemplo, é tocado o hino da seleção de futebol escolhida. “Tem gente que pede forró, reggae ou músicas fúnebres. Alguns aproveitam o momento para dançar com a viúva, se ela for bonita”, contou entre risos. 
Bem familiarizado com temas relacionados à morte, Zé do Caixão afirma que pretende seguir com o seu negócio. “Não tenho problema com morte, nem com defunto. Faz parte. Eu, por exemplo, morei três anos aqui na funerária, quando ainda não tinha condições de ter outro lugar para ficar. Vou continuar me sustentando com a venda de caixões”, assegurou.

_______________
Thamirys D'Eça

Read Comments

Lentes leigas em Alcântara

As imagens abaixos foram feitas por mim em viagem à Alcântara no início do mês. Era para eu ter dado uma "tratada" nelas, mas a preguiça não deixou. Câmera fuleragem, mas a intenção é boa, viu!? 
Fui para o local para cobrir os últimos dias da Festa do Divino Espírito Santo como repórter do jornal O Estado do Maranhão. Vejam, então, breves registros da pacata cidadezinha maranhense, da manifestação folclórica mais popular do lugar e de baboseiras pessoais.
Mastro do Imperador

Saindo de São Luís a "ferry" e fogo

Ruína na Praça da Matriz


Ruína na Praça da Matriz; Cruz ao fundo

Detalhe de ruína na Praça da Matriz

A "passagem" humana pelas ruínas

Mastro do Imperador na Praça da Matriz

Ruína na Praça da Matriz
Anúncio da Festa do Divino

A provinciana Alcântara

São Luís vista de ruela em Alcântara
 
Catita, a cadela que acompanha chegada de turistas, tomando uma gelada
Cortejo no Domingo de Pentecostes

Cortejo segue para a Igreja Nossa Senhora do Carmo

Cruz no alto da Igreja de Nossa Senhora do Carmo

Membro da corte imperial
Membro da corte imperial

Cruz sinaliza início da procissão

Bonecas à venda no largo da Igreja de Nossa Senhora da Conceição

Luminária no largo da Igreja de Nossa Senhora do Carmo
Fitas da Festa do Divino

Além mar

A malemolência nas ruínas alcantarenses
TV nada. Acho que sombra é que engorda
Senhor no largo da Igreja Nossa Senhora do Carmo
Perna, bolsa, fitas e Heineken
Minha pulseira "temática"
Bandeireiras em cortejo
Caixa; caixeira
Bandeiras do Divino
 
Pés cansados das velhas caixeiras

_______________
Thamirys D'Eça

Read Comments

Cadela acompanha chegada de turistas nas ruas de Alcântara

Catita nas ruelas de Alcântara. Foto: Douglas Júnior

Thamirys D´Eça
Enviada Especial

No início da manhã, ela está a postos no Porto do Jacaré, em Alcântara, à espera dos visitantes. Fica à beira-mar e alegra-se ao observar no horizonte a chegada dos barcos. Ao visualizar as figuras estranhas ao seu cotidiano desembarcando em sua cidade, a cadela Catita se aproxima e escolhe um grupo para acompanhar pelas ruelas de pedra. Quem está chegando acha a atitude normal, mas quem é morador do local sabe que foi dado início a mais um “ritual”.
A cadela é muito querida em Alcântara. Alguns a chamam de Catita, mas a maioria a conhece como “a cachorra que acompanha os turistas”. Com aproximadamente 5 anos, conforme se estima no município, Catita mora na rua e para sobreviver depende dos petiscos que ganha.
Por ser muito dócil, é fácil se cativar com seu olhar sereno e dar o resto do bife - sua comida preferida - para vê-la abanar o rabinho.
Segundo Maria do Socorro Macedo, a Batissá, que mora, tem um restaurante e uma pousada na Ladeira do Jacaré - via que dá acesso ao porto -, Catita herdou da mãe, Sâmia, o hábito de acompanhar os turistas na chegada à Alcântara.
“A mãe dela já morreu, mas a filha continuou fazendo o que ela fazia. Quando Sâmia ainda era viva, iam as duas e ela aprendeu”, contou a empresária.
Batissá disse, ainda, que Catita e a mãe pertenciam a uma idosa conhecida por Gregrória, mas após Sâmia falecer, há pouco mais de três anos, a família mudou-se, deixando Catita desamparada. “Quem cria ela somos todos nós. Não deixamos ficar doente. Damos comida. Quem mora por aqui sempre ajuda. Ela é uma cadelinha especial”, afirmou Batissá.
A moradora disse que a esperteza de Catita não é evidente apenas por acompanhar os visitantes. Quando ela fica saciada com os vários quitutes que ganhou durante o dia, os expele para poder comer mais.
“Como Catita acompanha mais de um grupo de turistas e nós ainda damos comida a ela, para não desperdiçar, vomita, que é para poder ter espaço na barriga para comer mais”, explicou Batissá.
Companhia - Outro morador, Adilson Viégas Costa, o Cabeludo, dono de um bar na Praça da Matriz, recebe constantemente a visita de Catita. “Ela sai acompanhando os turistas até onde se hospedarão. Se vão passear, ela vai atrás, mas muitas vezes eles vêm para cá para o bar beber, e ela fica deitadinha esperando eles terminarem, para seguir o mesmo rumo. Quando não tem mais turista chegando ao porto, ela fica rodando a cidade e fica perto de quem não é daqui”, relatou.
A artesã Doralice Santos (Dona Dora), que considera Catita mascote da cidade, disse que para todos os turistas que visitam sua loja, na Ladeira do Jacaré, conta sobre a história da cadela. “As pessoas acham engraçado, gostam. A maioria quando sabe faz carinhos e dá comida e ela”, disse.
Catita acompanha equipe de O Estado. Foto: Douglas Júnior
Nem mesmo a equipe de O Estado escapou aos olhos da cadelinha, que a acompanhou do Porto do Jacaré até a Praça da Matriz. Aos outros visitantes o hábito de Catita também despertou curiosidade.
“Achei muito interessante ela fazer isso. É uma cachorra muito esperta. Percebi que ela estava nos seguindo, mas só depois soube que ela faz isso com quem é de fora da cidade”, observou Fernanda Corrêa, que saiu de São Luís com o namorado para conhecer Alcântara e teve a companhia de Catita durante todo o período do almoço.
Outro que se surpreendeu com a história de Catita foi o turista paraense George Victor de Moraes. Ele foi com esposa e filhos para Alcântara e também recebeu atenção da cadela.
“Minha esposa é daqui e já sabia da história, mas eu e nossas filhas não. Quando elas viram que a cadelinha nos escolheu para seguir elas ficaram muito empolgadas”, destacou o turista.
Matéria publicada na edição do dia 18 de junho de 2011 do jornal O Estado do Maranhão.

Read Comments