Além das ruínas, casarões antigos, praias e manifestações culturais como a Festa do Divino Espírito Santo e a de São Benedito, a Funerária Pinheirense virou atração no município de Alcântara. O motivo é que o proprietário, Gerson Costa, conhecido por Zé do Caixão, resolveu vender caixões temáticos. O assunto escolhido são times de futebol. Nos pacotes oferecidos pela loja estão também “choradores” – pessoas contratadas para chorar durante velórios e enterros – e banda para tocar os hinos das seleções esportivas e músicas em geral.
Antes mesmo de entrar na funerária, a frase “seja sócio” desperta o interesse de moradores e turistas. A maioria acha o convite cômico. “Eu mesmo não quero ser sócio não. Deus me livre. Não quero morrer tão cedo e nem nunca trabalhar com nada relacionado à morte”, disse entre risos Luís Silva, que mora próximo ao local.
Na porta da funerária, um vendedor de caixões muito espirituoso que usa óculos escuros, chapéu de palha, camiseta colorida, bermuda e está sempre sorrindo. Gerson Costa, ou Zé do Caixão, como é chamado no município, além de proprietário, é o responsável por receber os compradores e apresentar os pacotes de venda.
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Zé do Caixão aguardando compradores. Foto: Douglas Júnior |
Além do Zé do Caixão, que por si só é uma atração à parte, entre os caixões amadeirados, envernizados, dourados e prateados, estão os itens que mais chamam a atenção de quem passa pela Rua Direita, Centro dea cidade, onde está situada a funerária. São os caixões com emblemas de times de futebol.
Durante minha passagem pelo lugar, estavam expostos caixões das seleções Vasco e Corinthians. “Tínhamos um do Flamengo também, mas morreu um torcedor e compraram o caixão para ele, mas já fiz pedido de outro”, explicou Zé do Caixão.
Além do Flamengo, Zé do Caixão disse que pretende encomendar de uma fábrica de caixões em São Paulo - de onde também são trazidos os comuns – também nos temas dos times Fluminense, Sport, Internacional e até dos maranhenses Sampaio Corrêa e Moto Club.
Para o falecido obter o caixão personalizado, porém, terá de pagar mais caro. Cada um, independente do time, custa R$1.800. Apesar do valor, ele afirma que já recebeu pedido de reserva. “Quando a pessoa é muito torcedora, a família quer homenagear, mas para garantir isso, antes mesmo de morrer tem gente que vem aqui fazer a reserva. Tem um fanático pelo Vasco que já reservou o seu”, disse.
O torcedor vascaíno é Fábio Luís Lemos. “Sou Vasco desde pequeninho. Nasci torcendo e vou morrer torcendo e, para isso, só mesmo sendo enterrado com um caixão do time do coração. Acho uma idéia maluca, mas muito legal”, explicou de maneira bem-humorada.
A idéia de vender caixões com emblemas de times de futebol surgiu desde o início do ano, apesar da Funerária Pinheirense existir há 15 anos. “Meu pai era o dono e comecei a trabalhar nela desde cedo. A funerária funcionava em Pinheiro, mas depois que ele morreu me mudei para Alcântara”, relatou Zé do Caixão.
Segundo ele desde que adotou a venda dos caixões com temas futebolísticos, as vendas aumentaram, assim como as visitas na funerária. “Muitos turistas vêm aqui e quando passam e olham, tiram foto, se divertem, apesar de ser algo relacionado à morte. Virou uma atração de Alcântara”, considerou.
Não é só apenas os caixões de times que transformam a Funerária Pinheirense em um local peculiar. Nos pacotes de venda, os compradores podem optar também por “choradores”. “Tem gente que não tem muitos amigos e nem muitos familiares, então, tem gente que contrata ‘choradores’. Aqui temos dois, que são o Berfú e a Fátima. Eles recebem R$70,00 para chorar no velório e enterro do defunto”, revelou Zé do Caixão.
Há quem opte também por banda musical, para “animar” a despedida de quem morreu. Se o falecido estiver sendo enterrado num dos caixões de time, por exemplo, é tocado o hino da seleção de futebol escolhida. “Tem gente que pede forró, reggae ou músicas fúnebres. Alguns aproveitam o momento para dançar com a viúva, se ela for bonita”, contou entre risos.
Bem familiarizado com temas relacionados à morte, Zé do Caixão afirma que pretende seguir com o seu negócio. “Não tenho problema com morte, nem com defunto. Faz parte. Eu, por exemplo, morei três anos aqui na funerária, quando ainda não tinha condições de ter outro lugar para ficar. Vou continuar me sustentando com a venda de caixões”, assegurou.
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Thamirys D'Eça