Por um triz não sou bandido
Por acaso achei cá para ouvir O Herói – última faixa do CD Cê, lançado em 2006. Com certeza não é a melhor das centenas músicas compostas por ele e nem faz parte do melhor dos seus mais de quarenta CDs lançados. Porém, eu gosto dessa música. Gosto desse toque de texto recitado acompanhado de melodia.
A música trata-se de uma crítica social, a busca pela democracia racial. Ela possui trechos que a tornam a impactante, como o que dá nome a esta postagem. Outro fator que torna a música hipnótica são os gritos desesperados já quase nos últimos acordes que de tão incômodos aos ouvidos provocam um resultado final atrativo.
Herói
Caetano Veloso
Nasci num lugar que virou favela
cresci num lugar que já era
mas cresci a vera
fiquei gigante, valente, inteligente
por um triz não sou bandido
sempre quis tudo o que desmente esse país
encardido
descobri cedo que o caminho
não era subir num pódio mundial
e virar um rico olímpico e sozinho
mas fomentar aqui o ódio racial
a separação nítida entre as raças
um olho na bíblia, outro na pistola
encher os corações e encher as praças
com meu guevara e minha coca-cola
não quero jogar bola pra esses ratos
já fui mulato, eu sou uma legião de ex mulatos
quero ser negro 100%, americano,
sul-africano, tudo menos o santo
que a brisa do brasil briga e balança
e no entanto, durante a dança
depois do fim do medo e da esperança
depois de arrebanhar o marginal, a puta
o evangélico e o policial
vi que o meu desenho de mim
é tal e qual
o personagem pra quem eu cria que sempre
olharia
com desdém total
mas não é assim comigo.
é como em plena glória espiritual
que digo:
eu sou o homem cordial
que vim para instaurar a democracia racial
eu sou o homem cordial
que vim para afirmar a democracia racial
Eu sou o herói
só deus e eu sabemos como dói
Para fazer o download da música clique aqui.
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