Saia da minha frente, por gentileza

Os pedidos de licença estão derradeiros. Meu latim eu usei demais. Minha paciência tem tempos que não comparece quando a chamo. Está cansada, coitada. Minha força a cada dia diminui. Já a insatisfação cresce de maneira assustadora. Não sei mais o que posso fazer. Tenho impressão que não há mais nada a ser feito. Perder a minha educação eu não perderia, então, por favor – e agora uso os poucos pedidos que me restam -, saia da minha frente, por gentileza.
O samba está para todos e só não samba quem não quiser. Para quê perder tempo arranhando o disco do Cartola? Deixe-me sambar em paz. Deixe-me beber cerveja aos domingos e todos os outros dias em que o sol se firmar e a sede apertar a garganta. Deixe-me colocar o meu vestido e sentir o vento bater e fazê-lo levantar quase a mostrar minha calcinha rendada. Deixe-me ver a lua acompanhada. Então, por favor, saia da minha frente, por gentileza.
Eu não posso mais me deixar afetar pelo desprazer alheio. Meu corpo é espiritualmente aberto demais. É injusto, cruel. Toda maldade, infelicidade e maus agouros grudam na minha roupa. Eu não vou mais andar com a roupa suja. Deixe-me andar limpa. Afinal, eu não tenho culpa de que a vida se encaminhou dessa maneira.
É uma súplica que estou a fazer. Se não quiser fazer um favor para mim, faça por algo, sua consciência. Deixe-me sentir as boas coisas, por gentileza. Então, tire sua tristeza do caminho que quero passar sem dor. Saia da minha frente.

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Thamirys D'Eça

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