Sem ode aos esquecidos



Olá, querido blog esquecido.
Desculpe-me por deixá-lo sem notícias minhas. Tenho andado atarefada. Tanta coisa aconteceu. Acabou não sobrando tantas forças para você. Guardei o que me restava para outros assuntos e foi tudo tão sem sentido, meu querido. Estou tão arrependida. Se eu soubesse que terminaria assim eu teria abandonado outras coisas, outras pessoas, outras atividades. Não valeu a pena te deixar por outros folhetins.
O ano de 2010 acabou e nada te desejei. Já é 2011 e ainda não tinha vindo aqui para dar-te um beijo ou um abraço com sabor e cheiro do meu antigo perfume que você tanto gostava. Eu sei que preciso sentar-me e contar-te tudo que houve por esses tempos. Você quer me ler desta vez?
Estou te sentido meio arredio. Por favor, meu querido. Eu prometo contar-te tudo agora. Fui convencida nos últimos tempos a abandoná-lo, meu blog. Acreditas? Fui tola, mas agora estou disposta a fazer tudo diferente. Quero te dar letras novamente e te fazer crer que ainda sou a mesma garota em constante ebulição.
Lembra quando eu confiava em te contar os meus erros e acertos? Eu era tão aberta e pura que muitos me condenaram. Agora vejo que ouvi quem não devia e hoje tenho que ouvir o coro “eu te disse que não valia à pena”. Eu posso pedir perdão? Tenho o direito de me arrepender, meu querido? Foi um erro ficar sem você e sem um monte de outras coisas para ficar com quem não merecia a minha dedicação.
Na época eu pensava que os bons tempos chegariam e que cedo ou tarde tudo se acertaria com você, com o resto. Só agora posso ver que os bons tempos são agora. Estou tão livre, tão cheia de vontades. Tenho medo até que seja desacato com os desafortunados querer tudo de uma vez só.
Meu querido, eu vou ser sincera. Eu gosto da sinceridade. Eu gosto da lealdade, da fidelidade, da paixão por tudo. O nada é muito vazio e tem andado cada vez mais vazio, se assim for possível. As dúvidas são ainda mais vazias e eu sempre soube o que quis. Eu tenho muita paixão em mim para me boicotar. Admito é que fico triste ao ver a superficialidade dos outros. Ainda dizem que a fútil sou eu. Existência fútil é a de quem nada quer, quem não tem a quem querer, quem não sabe o que quer.
Você tem que concordar comigo, meu blog. É tão fácil dizer não saber de nada e contar isso para todos para justificar os erros. É tão fácil dizer que existiam dúvidas quando, ao mesmo tempo, as ilusões eram tão bem sussurradas aos ouvidos. “Eu te amo muito. Eu sei disso. Eu sei que quero você, mas eu sou louco”. É tão fácil fazer uma besteira e atestar a própria loucura.
Oh, meu querido. Passei por tudo isso e me ausentei mais do que deveria. Houve coisas amenas antes da última gota, mas nada que um cego amor não suportasse. Amor esse que eu deveria ter focado em outras coisas, como você. Será que um dia você irá me perdoar? Eu posso mudar, de verdade. Nada de mentiras. Com estas já sofri demais e até quase enlouqueci.
Deixe-me mostrar-te que agora pode ser tarde, mas abri os olhos. Reconheço que ainda é difícil agüentar todas as conseqüências dos atos alheios, afinal, a crueldade humana é grande e a língua é maior ainda. Em pensar que tudo que eu queria era dançar um samba e sentir a leveza em dueto.
Agora, depois de tudo, o que restou é que diariamente sinto os olhares, a compaixão, o desprezo e até o gozo de alguns. Onde quer que esteja, meu querido, me sinto sempre julgada. Eu não sou réu e não sou vítima. Eu não quero nada disso. “I'm the hero of the story. Don't need to be saved. It's alright... (Eu sou o herói da história. Não preciso ser salvo. Está tudo bem...)”, diria a Regina Spektor em “Hero”.
O que interessa, blog meu, é que agora sinto-me mais forte. Poderia enfrentar um furacão agora, mas os outros nem mesmo a minha superação imediata podem agüentar. Tenho ouvido tantas recomendações, como se fosse necessário. “Não sorria demais, não chore, não mostre tristeza, não saia para se divertir ainda, não converse sobre, seja reservada, esmurre a cara se precisar”. Eu sei o que fazer e como fazer. Diga para todos, meu querido.
Quero dizer-te ainda que fiz uma grande besteira. Passei por cima de coisas demais, perdoei coisas demais, superei coisas demais, deixei de fazer coisas demais e agora me pego num questionamento que é a única coisa que dor me traz agora: Pra quê? De que adiantou todas as vezes que saí da minha casa para checar se os remédios continuavam na cartela? De que adiantou ter me anulado para ajudar o outro? De que adiantou todos os conselhos, todas as brigas e todos os abraços de apoio incondicional? De que adiantou tantos pedidos de “me fale a verdade”, “não minta”, “me deixe ir”?
É incrível pensar que tudo que eu passei foi completamente em vão, meu queridinho. O que ganhei no fim de tudo? O constrangimento em vir aqui te pedir perdão. Além disso, tenho agora que todos os dias lidar com a decadência alheia. Com as feições de tristeza, vergonha, arrependimento, derrota. Não é a melhor coisa do mundo ver quem você gostou se jogar em um precipício e não poder fazer absolutamente nada. Eu também me joguei, mas uns dias atrás lancei a corda para voltar à superfície. No fundo, meu caro, não me agrada.
Eu fui estúpida, amor, mas não a mais estúpida nessa história toda. Tem gente muito mais louca, mais inconseqüente. Para estas, que tanto tentaram me destruir e destruir o que estava tentando erguer e até consegui por várias vezes – eu acho – não desejo nada de ruim. Como sempre disse, eu só queria que todos fossem felizes com suas vidas e me deixassem viver a minha também em paz.
Sei que você pode me perdoar. Ainda tenho muito para te dizer, mas agora só quero lhe fazer um último agrado. Não faço ode aos esquecidos, mas posso cantarolar por cá.

“Você zombou e brincou / Com as coisas mais sérias que eu fiz / Quando eu tentei, com você ser feliz / Era tão forte a ilusão que prendia o meu coração / Você matou a ilusão / E libertou o meu coração / Hoje é você que vai ter que chorar / Você vai ver” 
(Você Vai Ver - Tom Jobim)

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