Enquanto isso, na imundície do pátio...


 
O primeiro poema que aprendi na vida - pelo menos que me recordo -, acho que com uns 7 anos, foi um do Manuel Bandeira chamado "O Bicho”. Ontem, na alta noite, presenciei uma cena que nunca mais irei esquecer tal qual o poema e tal qual o significado que ontem ele mostrou-me.

Leiam, então, “O Bicho”:

Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.
Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem”.

Para todos, "O Bicho", do Manuel Bandeira, retrata o último estágio de miserabilidade que um ser humano pode atingir. Catar comida no lixo é degradante, satisfazer-se com a comida vinda dali é difícil de uma pessoa como eu, que nunca passou fome, assimilar facilmente.
Ontem, porém, vi que "O Bicho", do Manuel Bandeira, pode ser aplicado de maneira não literal. Não necessariamente o homem precisa ser um mendigo, não necessariamente os detritos são os restos de comida e não necessariamente o pátio cheio de imundícies é um lixão. Pode ser um homem qualquer que se contenta com uma porcaria qualquer e que vive uma vida qualquer que nada trará de bom, como já era de se prever.
Percebi ontem, na alta noite, que "O Bicho", do Manuel Bandeira, tem mais em comum com muita gente que se coloca em uma vida de submundo do que poderia imaginar a minha vã sabedoria, vã filosofia e, sobretudo, os meus “vãos sentimentos”.

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