Eleita hoje a Miss Brasil 2010. Camila Ribeiro representará o Maranhão.

O que para muitos é uma mera futilidade, para outros é um sonho de vida. Acontece hoje, no Memorial América Latina, em São Paulo, a eleição da mulher mais bonita do país. Vinte e sete candidatas disputam a coroa e a oportunidade de representar o Brasil no Miss Universo, ainda sem data e local definidos. A maranhense Camila Ribeiro, 20, está confiante na vitória.


Para este ano, o concurso nacional, organizado pela Gaeta Promoções e Eventos, promete surpresas. Os trajes casuais irão homenagear grandes estilistas brasileiros e farão referência à Copa do Mundo. As misses desfilarão ainda em traje esportivo, roupa de gala e maiô.
Depois dos desfiles, os jurados selecionarão 14 misses para a segunda etapa. A 15ª será escolhida pelo público por telefone (014 41 84010401), mensagem de texto (72260) e internet. Em seguida, as 15 finalistas voltam a desfilar e 10 serão escolhidas. Em mais uma rodada, ficarão apenas cinco meninas, que serão entrevistadas e receberão o anúncio da vencedora do concurso. A ganhadora receberá um carro zero quilômetro e R$ 200 mil em contratos de trabalho.
Afora os regionalismos, estou torcendo pela Camila Ribeiro, representante maranhense no concurso. Tive a oportunidade de entrevistá-la (leia a entrevista-perfil abaixo), dias depois de ser eleita Miss Maranhão. A menina é um encanto. Além de possuir traços perfeitos, altura ideal, medidas invejáveis, é um poço de carisma e possui uma história de vida bastante peculiar. Confira abaixo toda a sua trajetória:



Thamirys D’Eça
Da equipe de
O Estado

“Quando eu me olho no espelho, penso: ‘Como eu sou bonita’”. Se para muitos a frase poderia soar como ausência de modéstia, com Camila da Silva Ribeiro acontece diferente. Quem convive com a moça de 1,80m de altura, 65 centímetros de cintura, 94 centímetros de quadril e 86 centímetros de busto só tende a concordar com a frase recitada matinalmente. Esbanjando - além da beleza nata - charme, elegância e porções colossais de carisma e humildade, ela já viveu muitas situações peculiares no decorrer dos seus 20 anos de vida. Estas vão desde descobrir que foi adotada até ser eleita Miss Maranhão 2010.
Olhando a negritude e os cachos de tons avermelhados e esvoaçantes de Camila Ribeiro, é natural pensar que, para uma moça tão bela, poucas dificuldades se estabeleceriam. Porém, a sua luta começou desde muito cedo. Camila Ribeiro foi criada, desde os 7 anos, no São Raimundo, um dos bairros periféricos de São Luís. Com muito amor recebido da mãe Maria Celeste Ribeiro, ela imaginava que teria a sua passagem pela Terra como um acontecimento normal, sem muito alarde. Estava matriculada em uma escola pública da capital, a Fundação Nice Lobão – Cintra - e levava uma vida comum.
Na escola, os professores e demais alunos já notavam a formosura da pequena Camila e até chamavam-na de “modelo”. Ela gostava e se esforçava para ser merecedora do elogio. Brincava de desfilar e, nos intervalos das aulas, de bonecas, como toda menina. “Pegava comida de verdade na cozinha e passava horas e horas brincando. Claro que era um desespero quando me viam pegando aquilo tudo para somente brincar, mas eu ficava quietinha. Então, acabavam deixando”, conta.
Assim seguiu-se, tranqüilamente, a existência de Camila Ribeiro. O que ela não esperava é que aos 9 anos sua vida mudasse completamente. Na verdade, sua história ganhou destino diferente logo depois dos seus dois primeiros dias de nascida. Valquíria Conceição, após dar à luz Camila Ribeiro, resolveu, por motivos financeiros e familiares, passar a responsabilidade da criação de sua filha a Maria Celeste Ribeiro, que a adotou imediatamente ao vê-la no berçário.
O fato, porém, sou se tornou de conhecimento de Camila aos 9 anos, quando sua mãe adotiva apresentou a menina à sua mãe biológica e aos cinco irmãos. “Eu os conheci, mas até então não sabia de nada. Pensava que eram amigos da minha mãe. Depois ela me chamou e me contou que a mulher era minha verdadeira mãe. Ela disse que uma enfermeira perguntou se minha mãe teria condições de me criar e se não queria dar para a adoção. Foi quando ela soube e me adotou, já que não podia mais ter filhos e queria muito um filho do sexo feminino. Eu parei, fiquei em choque”, disse, emocionada.
Se para a maioria somente esta história já bastaria para uma vida adversa, com a de Camila Ribeiro há sempre o que se acrescentar. Além de descobrir que era filha adotada e que Maria Celeste e Raimundo Ribeiro não eram seus pais verdadeiros e Coulbert Ribeiro não era seu único irmão, ela ainda soube, na mesma ocasião, que tinha um irmão gêmeo, Sérgio Conceição. “Nem mesmo a minha mãe biológica sabia que esperava gêmeos. Ela não fez o acompanhamento de pré-natal. Primeiro nasceu o Sérgio.Depois ela soube que ainda havia eu”, relata.
Depois das notícias, a tranqüila Camila, que se conformava em ficar brincando sozinha de casa de bonecas no quintal, transformou-se. “Eu comecei a dar muito trabalho. Não queria mais ir para à escola. Tive que fazer tratamento psicológico”, revela. Somente aos 12 anos, Camila Ribeiro aceitou iniciar uma conversação mais amena com sua mãe biológica e aceitar melhor a sua condição. Com o pai, o pedreiro João Góes, o diálogo aconteceu apenas aos 15 anos, quando ela o procurou. Hoje, ela tem uma boa relação com os familiares. “Hoje em dia eu amo minha família biológica”, resume.
Passarela - Depois de toda comoção das famílias, aos 15 anos, Camila resolveu deixar para trás as amarras do passado e se dedicar àquilo que ela desde criança almejava: subir na passarela. Com estímulo da mãe e de alguns amigos, ela entrou em contato com Márcio Prado, fotógrafo do ramo. Até hoje, ela permanece sob cuidados do profissional. Seu primeiro desfile foi aos 15 anos, no encerramento de um curso para modelos.
Com o passar dos anos, a Miss Maranhão 2010 foi se aperfeiçoando – desfilou apresentando grifes de lojas conhecidas instaladas em São Luís - e também realizando atividades paralelas. Aos 17 anos, fez a sua primeira viagem profissional para um concurso de beleza realizado por uma marca de produtos de higiene pessoal, bucal e de limpeza, na Bahia. Aos 18, começou a participar, por influência da mãe, do grupo de Bombeiros Mirins, que realiza atividades de acampamento e de caráter social.
Foi nesse âmbito também que a mãe de Camila Ribeiro a incitou a participar das atividades da escola que fundou e que atende a crianças de baixa renda de 2 a 10 anos. A pequena instituição funciona há 15 anos e a Miss causa um verdadeiro frisson quando passa pelo local. “Quando vou chegando, as professoras pedem para eu nem entrar porque, se as crianças estão quietas, quando me olham ficam muito agitadas. Chego e tenho que beijar todos. Um por um. Já aconteceu de me falarem: ‘Tia Camila, a senhora é tão grande. Quando eu crescer quero ficar do seu tamanho’”, diz, orgulhosa.
Maranhense, Camila Ribeiro também se dedica a outra paixão, a música. Ela adora reggae e afirma dançar bem. Ela não perde uma noite de domingo no bar Chama Maré – clube de reggae no bairro da Ponta d’Areia. “Agora vou ter que parar de ir lá um pouco por causa dos deveres de Miss, mas eu adoro”, lembra. Ela também aprecia o som da Música Popular Brasileira, nas vozes de Adriana Calcanhotto, Marisa Monte, Alcione e Zeca Baleiro. Porém, ela não tem muitas oportunidades de ir a shows. Os únicos a que ela foi foram os apresentados este ano no Festival Nacional de Samba do Maranhão, realizado no mês de março.
Trabalho - Há 9 meses Camila Ribeiro começou a trabalhar como consultora de vendas de um plano de saúde, para ajudar na renda familiar. Este foi um dos principais motivos para ela se negar a participar do concurso Miss Maranhão. Foi só com muita insistência da mãe, dos amigos, do namorado e dos que a acompanham no estúdio em que desenvolve suas atividades de modelo, que ela resolveu entrar, há poucas semanas da competição, na disputa pelo título. “Eu não podia perder o meu emprego. Lá, depois que souberam que estava participando do Miss Maranhão, todos ficaram alegres. Também fiquei preocupada em ter que gastar muito. Pensei que teria que arcar com muitas despesas. No ano passado, insistiram para que eu participasse, mas não quis. Fiquei na recepção do evento e as pessoas diziam: ‘Mas o que você faz aqui? Você tinha era que estar lá em cima’”, fala, entre risos.
Depois que finalmente aceitou a proposta, no último dia do recebimento das fotos das candidatas, Camila Ribeiro começou a se preparar para a disputa pela faixa de mulher mais bela do estado. Ela passou por uma bateria de ensaios e de fotos. “Foi um processo difícil. Trezentas e oitenta meninas se inscreveram e só restaram 10 no concurso, que eram muito bonitas. Mas valeu a pena todo o esforço”, ressalta. A recompensa a que ela se refere é a faixa de Miss Maranhão 2010.
Agora, Camila Ribeiro só tem um pensamento: participar, no dia 8 de maio, no Memorial da América Latina, em São Paulo, do Miss Brasil 2010, que acompanhava somente pela televisão desde os 15 anos. Bonita, confiante, vaidosa e decidida, ela assegura que irá em busca do título nacional. “Me sinto uma diva quando estou desfilando. Adoro a passarela. Vou levar meu diferencial para São Paulo. Já me imagino entrando na passarela. Representarei um povo, uma cultura, uma historia”, fala.
Ansiedade na noite inesquecível - Perguntar para Camila Ribeiro qual foi o momento mais memorável da sua carreira é obter com segurança uma resposta objetiva e sem demora. A ocasião tem data e lugar. Aconteceu na noite do dia 10 de abril de 2010 no Teatro Zenira Fiquene, na Faculdade Atenas Maranhense (Fama), quando a modelo e consultora de vendas recebeu de Thaís Portela – Miss Maranhão 2009 – a coroa de Miss Maranhão 2010.
Porém, os momentos que antecederam o reconhecimento do título foram sofridos para Camila. Tamanha era a ansiedade que ela chegou até a arrancar parte da unha com as mãos. “Estava confiante, mas a Maina me deixou um pouco preocupada na hora. As outras meninas estava lá atrás, torcendo, gritando meu nome ‘Camila, Camila’ e quando saiu o resultado, foi muita emoção. Eu queria chorar e não conseguia. As lágrimas só conseguiram descer quando olhei minha mãe”, conta.
O título teve ainda o sabor mais especial porque Camila Ribeiro é a terceira negra – a primeira foi em 1974 e segunda em 1999 - a receber a faixa de Miss Maranhão em 60 anos de concurso e a primeira a realizar este feito neste século. “Sei que não fui eleita pela minha cor, mas sinto que agora sirvo de exemplo para várias meninas que se sentem discriminadas e que agora irão se aceitar, se valorizar e se amar mais. Isso para mim é uma responsabilidade grande e uma honra”, disse.
“Representar o Maranhão não vai ser difícil porque o povo aqui é valente, guerreiro e que não desiste. Eu sei disso e levarei tudo isso para São Paulo, no Miss Brasil”, afirma.
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Matéria publicada em O Estado
do Maranhão, no dia 18 de abril de 2010


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