Almas desoladas

Não sei onde estou com a cabeça que não te viro a mão na cara. Não, não tenho ódio de você. Você não merece meu ódio. Só os bons merecem ser odiados por mim. Não, não quero que me achem sublime e minha modéstia, na verdade, não liga para tal. Eu tenho pena de você, ó pobre alma desolada.
Tenho é raiva dos recalcados. Eles são sempre tão repugnantes e não sei o porquê de no decorrer da minha vida eles insistirem em me perseguir. Desde o jardim de infância lido com a inveja alheia. Olhe, olhe, eu só tinha cinco anos. Nessa idade, eu fugia dos meninos que insistiam em me beijar na hora do recreio e queriam ser o meu par no concurso de “Princesa da Primavera do Colégio Batista Daniel de La Touche - 1993”. As meninas, por sua vez, me olhavam torto desde que fui escolhida para competir pelo título e o ganhei – ó grande prêmio! Eu chorava. Hoje, não choro mais. Eu tenho pena dessas pobres almas desoladas.
Olhe para você. É um nada e nada tem a mostrar. Cadê seu brilho? Cadê seus amigos? Cadê sua vergonha? Ah, não tem. O que tens? Um batom vermelho que te faz parecer puta, sobretudo nas manhãs de sol. Porque alguém usa um batom vermelho numa manhã? Gostaria de entender. Coisa de pobres almas desoladas.
Tenho é raiva dos sebosos. Cobertos de sujeira e sempre aborrecíveis. Quando passam, roubam seu humor, sua plenitude. Expelem suas frustrações, te colocam para baixo. Quando falam, é detestável, mas quando te olham é ainda pior, te reduzem. Imagine se valessem algo. Ó, pobres almas desoladas.
Olhe para você. A falsidade se percebe de longe, pelo riso, pelo andar. Não tens personalidade nem na escolha de um óculos escuro. A única personalidade que pensas ter é na escolha da tintura do cabelo ou do batom vermelho que te faz parecer puta, sobretudo nas manhãs de sol. Ora, não precisa se fingir de coitada, porque sua existência já é digna de pena. Ó pobre alma desolada.
Tenho é raiva dos ínvidos. Cobiçam o que tu tens, te murcham. Mas eu entendo porque és assim. Não tens nem uma bunda, quanto mais orgulho de si ou para si. Só resta a pretensão mesmo. Conseguem só pena essas pobres almas desoladas.
Olhe para você. Rasteja, não tem amor-próprio. És venenosa e seu veneno não tem classe alguma. É brega, dispensável, deselegante. És malvada, mas sua malvadeza não tem estilo, pose, glamour. É baixa, perversa, cruel. És também irônica, mas tua ironia não tem charme e muito menos atitude. Não és refinada o bastante para ter uma ironia admirável.
Tenho é raiva dos depressivos. Sempre se acham sofredores e se sentem sempre carentes e insatisfeitos. Mas pudera, afinal, suas vidinhas sem graça, sem perspectivas e claro, amargas, imperam. De cara logo se nota que dali não mais evoluirão. Ó, pobres almas desoladas.
Pelo menos, você tem sorte. Devias comemorar que não sou asquerosa que nem tu. Devias comemorar que minha “nigrinhagem” é classuda e não reduzida como a sua. Devias comemorar que eu por ti não tenho ódio, só pena da sua alma desvairada, solitária, infeliz e desolada. Senão, sinceramente, eu perderia a cabeça e te viraria a mão na cara.
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Thamirys D'Eça
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Depois de alguns comentários - de Silvia Moscoso... eu falo é "mermo"! rs -, resolvi salientar que: Este texto fiz há muito tempo atrás. Por algum motivo, gosto dele. Pode parecer estranho, mas sinto-me bem ao lê-lo. O encontrei jogado dia desses em um canto do computador e como o blog estava desatualizado, resolvi postá-lo.

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2 comentários:

Stephannie Lee disse...

Não vira a mão não, cuspa! Cuspa no rosto!

Thamirys D'Eça disse...

Boa idéia. =P

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