As manadas desvairadas de São Luís

Ouço sons semelhantes ao de uma manada. Vejo elefantes, leões e toda a trupe correrem como se nada mais houvesse para trás. Correm como se suas vidas dependessem daquilo. No percurso, há muito empurra-empurra e esfrega-esfrega, mas tudo aquilo já parece ter se tornado algo comum para aquelas criaturas. Olhando, fico assustada, apesar de já ter visto aquela cena antes. Para mim, é sempre é muito abissal aquela conduta. Não, não se trata de um documentário do Discovery Channel, trata-se do comportamento quase animalesco visto atualmente nos Terminais de Integração de São Luís, paradas de ônibus ou mesmo dentro dos próprios coletivos.
É claro que o principal motivo para que essa cena bizarra se revele todos os dias - quase com horário marcado - decorre do sofrível sistema de transporte público da capital. Com veículos insuficientes para um número crescente de usuários, esses lugares acabam se tornando um caldeirão de horrores.
Por esse motivo, tenho detestado cada vez mais utilizar esse meio de locomoção. Faço o possível e o impossível para não precisar utilizá-lo, sobretudo em horários de pico, quando a manada se aglomera e fica ainda mais ouriçada. Para isso, quando não há caronas de mãe, namorado ou amigos – e enquanto meu próprio carro não se encaminha – tenho gasto mensalmente, sem arrependimento, centenas de reais com táxis e motos-táxi.
Calor, aperto, horas de espera e tumulto. O usuário do transporte ludovicense - vulgo “banheiras do demônio” –, tem de pagar ainda R$2,10 por um serviço detestável. Muitos ainda arriscam suas vidas, indo praticamente pendurados na porta. A situação é ainda pior em bairros periféricos, onde as linhas são ainda mais reduzidas e, conseqüentemente, a tendência de manadas de formarem torna-se assustadoramente maior.
Semana passada estava eu no Terminal de Integração da Praia Grande – o maior dos cinco (Praia Grande, Cohab/Cohatrac, São Cristóvão, Cohama e Distrito Industrial) existentes em São Luís – e novamente fiquei horrorizada com o que vi. Muitos transformaram aquilo em um pardieiro, como já diria minha tia. Gente correndo, ônibus parando na casa da mãe, fiscais enfiados em buracos na esperança de se esconderem, motoristas mal-humorados, crianças chorando, gente utilizando o espaço como igreja evangélica, residência, motel e, por fim, como lugar de comércio livre para venda de todo tipo de coisa.
Filas enormes, muito barulho, sujeira, ferrugens. A má-educação reina e não me venham com “o poder público não oferece instrução, por isso a população age assim”. Para mim, mesmo com as dificuldades no transporte da cidade e as condições duvidosas das salas de aula fincadas em terras tupiniquins, nada justifica o comportamento daquela gente. Quando me vejo por ali, só penso uma coisa: a população ludovicense transformou-se em uma manada desvairada.
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Thamirys D'Eça
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As fotos - extraídas do blog do Ronaldo Rocha - mostram a situação dos usuários no Terminal de Integração do São Cristóvão.

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2 comentários:

ElizaBahro disse...

Você não acha que foi um tanto agressiva na forma em que se referiu as ''pessoas'' q usam o terminal?

@ElizaBahro < Twitter

Thamirys D'Eça disse...

Meu intuito não era ser agressiva. Eu nem quis generalizar, afinal, eu também sou usúária, por vezes, dos Terminais de Integração e não sou nenhuma maluca que sai empurrando as pessoas e que quer entrar de todo jeito e de qualquer forma nos ônibus, como você também pode não ser.

Acho que agresssivo mesmo é esse comportamento que vemos por lá. É um desrespeito com o outro que também precisa da locomoção.

Contudo, agradecida pelo comentário.

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