Cortejo e procissão encerram Festa do Divino em Alcântara

Foto: Douglas Júnior
Após missas, ladainhas e cortejos ao som das caixeiras que ecoam louvores entre as vielas de Alcântara, imperador, imperatriz, mordomo, mordoma, vassalos, aias, bandeireiras, mestres-salas, turistas e a população local se despedem hoje de mais um ano da Festa do Divino Espírito Santo. Ontem, no Domingo de Pentecostes - 50 dias após a Páscoa -, um dos pontos altos dos dias de celebração, aconteceu a Missa Solene na Igreja de Nossa Senhora do Carmo, seguida de cortejo, a Procissão da Santa Crôa e Leitura do Pelouro. Milhares de pessoas prestigiaram a ocasião. Hoje acontece a entrega dos postos aos "festeiros" - membros da corte - do próximo ano.
Logo no início da manhã, pequenos cortejos saíram da casa de cada um dos sete "festeiros" em direção à Casa do Divino, na Rua Grande, onde o imperador José Maria Pinheiro reside durante os dias de festa. Após a chegada de todas as pequenas comitivas formadas por banda, membros da corte e algumas com caixeiras, seguiu-se para a Igreja de Nossa Senhora do Carmo.
O templo lotado recebeu a corte e mostrou respeito. Na chegada, as caixeiras fizeram saudação aos presentes com toque de louvação. Em seguida, a missa prosseguiu, com intervalos de cânticos. O momento foi de muita devoção. "É muito bonito quando une a igreja com festa", considerou Renata Sanches, de 32 anos, que saiu São Luís para prestigiar o festejo em Alcântara.
Após a missa, corte, fiéis, admiradores e curiosos da cultura popular seguiram em cortejo pelas ruas de Alcântara. O percurso foi traçado para visitar a casa de todos os "festeiros" ao som de banda ou ao toque das caixeiras do Divino. Na casa dos membros da corte e acompanhantes, tinham um rápido descanso e se serviam de bebida e comida, para que pudessem prosseguir.
Durante o cortejo pelas ruas de Alcântara, várias pessoas apreciaram da porta de casa a passagem da corte imperial, representada por crianças em trajes típicos da nobreza em meados do século XIX. "Acho muito bonitas as roupas, a música. Nossa cultura é isso", disse Maria de José Santos, de 42 anos, que, junto com os familiares, assistiu à visita da corte às ruas do município.
Imperador - Após a visita à casa de todos os "festeiros", entre mordomos e mordomas, a visita encerrou-se na Casa do Divino, quando o imperador recebeu os convidados em um grande banquete, em que um dos destaques era o doce de espécie, que é à base de coco e característico da região. A iguaria é feita por mulheres alcantarenses durante o ano todo.
O Domingo de Pentecostes foi marcado ainda pela Procissão da Santa Crôa, onde a corte completa o rito acompanhada das tradicionais caixeiras do Divino, do pároco e de outros membros da Igreja Nossa Senhora do Carmo andando pelas ruas de pedra, característica do município. A figura central é a Coroa do Divino, chamada de Santa Crôa, uma coroa de prata de valor religioso e histórico.
Depois da procissão, foi feita a Leitura do Pelouro, ocasião em que foi divulgada a relação dos "festeiros" do ano seguinte. A ocasião desperta sempre muita curiosidade da população e o espaço na igreja da cidade fica muito disputado.
Segundo Marlene Silva, a Dona Malá, de 68 anos, uma das maiores conhecedoras da tradição alcantarense e também caixeira do Divino, a cada ano é alternado o posto de imperador e mordomo-régio para imperatriz e mordoma-régia. Como a festa girou em torno do masculino, no próximo ano será feminino. A seleção dos nomes é feita de maneira criteriosa e quem pertence a ela ganha respeito dentro da cidade.
Apesar da Leitura do Pelouro, quando a população cria expectativa para o ano seguinte, muita gente lamenta o término dos dias de festejo, como o caso de Lienio Pinheiro, de 70 anos, um dos ícones da Festa do Divino. "Participo do começo ao fim da festa. Quando ela acaba, fico muito triste", declarou, emocionado.
Para dar prosseguimento à tradição e iniciar um novo ciclo para a Festa do Divino Espírito Santo em Alcântara, acontece na manhã de hoje a entrega oficial dos cargos para os escolhidos para ocupar os postos da corte imperial.

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A Festa do Divino Espírito Santo acontece este ano desde o dia 1º e a ocasião remete à corte de Dom Pedro II, que visitaria a cidade em meados do século XIX, mas a passagem pelo local nunca se concretizou. A festa relembra os costumes da corte imperial e a cidade tem vários traços que mostram a expectativa da população da época para a chegada da nobreza. 
 
Matéria publicada na edição do dia 13 de junho de 2011 no jornal O Estado do Maranhão.

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