Subida do Boi agita festa em Alcântara

Foto: Douglas Júnior

Thamirys D'Eça
Enviada Especial

O som do toque das caixeiras é o anúncio do início da Subida do Boi. A tradição, que faz parte da Festa do Divino Espírito Santo, reuniu na tarde de ontem mais de mil pessoas nas ladeiras de Alcântara. O ritual atrai principalmente os jovens, que se divertem correndo dos bois que são atiçados para que persigam os corajosos. A cena é marcada por muita correria, gritaria e cenas hilariantes. No mesmo dia, aconteceu também ladainha na Igreja de Nossa Senhora do Carmo e visita do imperador José Maria Pinheiro aos mordomos.
A Subida é iniciada quando as caixeiras saem da Casa do Divino e seguem em cortejo até o Porto do Jacaré, onde os bois estão concentrados e tendo o rabo e chifres enfeitados de acordo com a cor escolhida pelos membros da corte imperial. No local, se reúnem centenas de pessoas que aguardam com expectativa o início do ritual.
Conforme a tradição, cada membro da corte oferece um boi para a festa. Os “festeiros”, como são designados, aguardam em suas residências a passagem dos animais que é dada início quando é finalizado o cortejo das caixeiras. Enfeitados e amarrados por cordas, os bichos são então encorajados à corrida.
Carreira - Quando a Subida do Boi é finalmente iniciada, foguetes são soltos e centenas de pessoas começam a correria e gritaria para escapar dos animais, que mesmo estando amarrados assustam por causa do seu tamanho e fúria provocada pela algazarra que toma conta do ambiente. Todo o percurso é acompanhado por uma banda, que fica sempre atrás do último boi.
A bagunça generalizada reúne pessoas de várias idades, mas a grande maioria é de jovens. Com apenas 8 anos, o estudante Cláudio Silva disse que é o momento mais divertido da Festa do Divino Espírito Santo e dá dicas para não ser atingido pelos animais durante a correria. “Tem que correr rápido e estar sem chinelo para não tropeçar”, recomendou.
Durante o percurso são vistas cenas hilariantes, como os vários tombos que acontecem durante a fuga. As quedas dos participantes são umas das principais características da Subida do Boi. Quando isso acontece, os outros presentes gritam ainda mais, mas dessa vez gozando de quem caiu.
Quem prefere não encarar a brincadeira, assiste das portas de casa à passagem da multidão alvoroçada, como Antônio Lima, o Totó, de 70 anos, que participou a primeira vez da farra em 1962. “Não gosto mais de participar porque além de ter uma idade avançada, acho judiação com os bois, mas se é tradição, tem que manter”, afirmou.
Após o fim do percurso, cada boi fica na casa do respectivo festeiro que o deu e durante a madrugada ele é morto. A espera é para que o animal esteja mais calmo e, portanto, não fique com a carne enrijecida. Após o sacrifício, a carne é repartida. Hoje, será distribuída na Entrega das Esmolas, outra tradição da Festa do Divino.

Entenda a Corte
A Festa do Divino Espírito Santo em Alcântara tem como presença fundamental a corte imperial, que é um grupo de jovens que durante o período se veste com trajes da nobreza e são tratadas como tal. O império se estrutura de acordo com uma hierarquia no topo da qual estão o imperador e a imperatriz, abaixo do qual ficam o mordomo-régio e a mordoma-régia, que por sua vez estão acima do mordomo-mor e da mordoma-mor. Sempre ao fim da festa – que este ano acontecerá segunda-feira, dia 13 -, o imperador e a imperatriz repassam seus cargos aos mordomos que os ocuparão no ano seguinte, dando prosseguimento à tradição.


Matéria publicada na edição do de 11 de junho de 2011 no jornal O Estado do Maranhão.

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