Disse Deus: ‘Que haja a dor’. E houve a dor

Eu não gosto dela. Não gosto que me acompanhe. Fujo dela com todo custo. É algo alheio à minha vida. A dor de nada serve para mim. Só causa incômodo e vontade de partir para longe. Me desperta o grito, o choro, o dissabor.
Não me venha com a dor, que eu não quero nem saber. Enterre-a. Queima-a. Arraste-a de volta para o esgoto de onde saiu. Deixe-me calma, coberta. Meus pulmões estão cansados, então, apenas massageie-os, dor, e siga o seu rumo, como se nada mais houvesse. Vá para os maus, que por mim você não volta mais.
Não insista em retornar. Se acontecer, não se assuste, porque irei recebê-la como se fosse a primeira visita. Afinal, eu sou menina. Meninas fazem isso e estão acostumadas. Convido-te para sentar e até finjo que gostei de recebê-la. Ofereço vinho e queijo. Conto histórias e convido-te para dormir comigo.
Já que não me larga, pois pelo menos me deixe caminhar. Deixe carregá-la. O peso me é comum. Se realmente acontecer, olharei e repetirei o que já te disse certa vez e o sambista escreveu. “Tire o seu sorriso do caminho que eu quero passar com a minha dor”.
Ela, nem mesmo merece muitas palavras. Sua escrita denuncia sua pequenez. Uma sílaba. Três letras. Não me dedicarei a escrever sobre ela. Restrinjo-me a dizer que a dor me sussurra aos ouvidos, mas eu sou meio surda, sabe? Só peço que não cobre juros depois, querida dor.

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Thamirys D'Eça

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